segunda-feira, 30 de junho de 2008



sexta-feira, 27 de junho de 2008

MOVIMENTO ESTUDANTIL: ESPAÇO DE LUTAS VERSUS INTERESSES PARTIDÁRIOS


Já faz algum tempo que o movimento estudantil (ME) brasileiro não está mais nas mãos dos estudantes. Como todos sabem, os partidos políticos hoje não apenas influenciam, mas também decidem os rumos que a luta estudantil deve tomar, suas pautas, formas de ação etc. Essa determinação tem motivos de origens distintas: o grande número de partidos políticos surgidos a partir do fim da ditadura militar e a conseqüente necessidade de ampliação de suas bases de apoio, a utilização do movimento estudantil como vitrine das ideologias partidárias, são apenas exemplos do uso que os partidos políticos fazem do ME. Entretanto, esta história não tem um só vilão, visto que muitos ditos líderes estudantis também se utilizam das ações promovidas pelo ME como forma de promover-se futuramente à candidaturas em cargos municipais e regionais, fazendo com isso que os interesses dos estudantes fiquem submetidos às vontades partidárias.
O modelo atual de representação dos estudantes, o DCE, é um instrumento visto por muitos como autêntico e legítimo. Contudo, não se deve esquecer que este se trata de uma instância diretamente atrelada à reitoria, ou seja, recebe recursos desta e está portanto diretamente ligada à ela. Além disso, as campanhas das chapas candidatas ao DCE recebem verbas dos partidos políticos ou outras instituições diretamente vinculadas a estes, ou seja, também estão diretamente ligadas a eles. Em resumo, tanto em nível de campanha como de gestão, as chapas estão diretamente atreladas aos partidos políticos e à reitoria.
Qual o problema disso tudo?
Uma vez que um órgão de representação estudantil está ligado à instituições de caráter político partidário, os seus interesses transformam-se também nos interesses destas instituições. O atrelamento existente entre as representações estudantis (DCE, diretórios acadêmicos, grupos de estudos etc.) e os partidos políticos deturpam os interesses do ME, mistificam as lutas em favor dos interesses das cadeias de relações partidárias. Uma análise fria do partido político nos mostra que ele não mais pode ser tomado como um modelo para as ações estudantis, suas concepções acerca da realidade mostram-se esclerosadas, mecânicas e defasadas. O partido hoje transforma suas questões particulares em questões a serem acolhidas por todos. Desde sua inserção no jogo liberal, a busca por uma ampliação da base de votos tornou-se uma máxima que transformou o partido político numa máquina única e exclusivamente voltada para esse fim.
Como exemplos desta associação perniciosa, elencamos alguns recentes fatos emblemáticos ocorridos nesta universidade: como a ocupação da reitoria ocorrida no ano de 2007. Neste ato a pauta reivindicatória apontava basicamente dois pontos principais: ampliação do Restaurante Universitário e Manutenção do prédio de apoio como patrimônio da UFSM. Além destes dois pontos principais, a pauta reivindicatória contemplava itens como abertura dos banheiros da União Universitária em tempo integral e maior tempo de funcionamento do RU. Este último foi o único ponto de pauta que efetivamente cumpriu-se. Além disso, as decisões dentro do ambiente da ocupação eram encaminhadas por grupos em pré-assembléias, de forma que as plenárias eram realizadas não com o intuito de discutir, mas sim de deliberar as proposições dos diferentes grupos participantes da ocupação. Ainda, ficou claramente visível neste ato que o debate não se fazia como forma de ampliar a discussão acerca das pautas, mas apenas na forma como se agiria a fim de concretizar os objetivos. Em uma palavra, diferentes grupos dentro do ME, com o mesmo objetivo, polarizam discussões acerca da forma e não do conteúdo, burocratizam as decisões, desejam criar heróis e não expor e discutir os problemas.
Outro exemplo mais recente da determinação das ações estudantis por parte dos partidos foi o Conselho de DA’s autoconvocado ocorrido no dia 05/06/2008. Neste conselho, onde a pauta principal era referente às eleições para o DCE, foi apresentado um documento que comprovava que a reunião havia sido proposta por um ParTido Político, com o interesse de adiantar as eleições, de modo que estas não coincidissem com as eleições municipais. O documento que foi lido na reunião fazia alusão direta aos grupos políticos organizados dentro do ME, e explicitava a necessidade da oposição a esses grupos por parte do partido proponente do conselho. Mais uma vez a influência: interesses partidários sendo discutidos de forma mascarada em instâncias de deliberação do ME.
A lista de exemplos é ampla e não pára de crescer. Acreditamos que a política existe em todas as esferas da vida humana, entretanto, é a politicagem interesseira que desejamos denunciar. É preciso recolocar no primeiro plano os interesses do ME dentro das lutas nas universidades, bem como extinguir a influência maléfica e desagregadora dos partidos políticos.Até quando o Movimento Estudantil estará à mercê dos interesses dos grupos políticos partidários? De que forma é possível eliminar a determinação das ações do ME pelos interesses partidários? Deixe sua opinião, critique ou apóie este texto, troque idéias, desconstrua, reconstrua, xingue, ame, só não perca a sensatez.